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31 janeiro 2012

MANIFESTO ABERTO À SOCIEDADE BRASILEIRA – MITOS E VERDADES SOBRE A MACONHA

Vivemos um momento de celebração da democracia neste país, com a realização de diversas manifestações. As maiores que o Brasil já viu em sua história.

Em nossa visão, a verdadeira liberdade democrática é oriunda principalmente do alicerce fundamental do reconhecimento do direito individual de escolha responsável, escolha esta que hoje é tolhida por uma série de políticas e leis vigentes que são incompatíveis com esta premissa.

Nós ativistas do movimento Cannábico, movimento que atua em defesa dos direitos individuais, fundamentalmente em prol da revisão de leis que proíbem o ciclo econômico do Cânhamo e da Cannabis, sentimos urgente necessidade de questionar e rebater certas informações que vêm sendo impostas e divulgadas de forma deturpada pela mídia, órgãos de segurança pública, de modo a promover a desinformação, o obscurantismo e o estigma social.

Como formamos uma comunidade real, concreta, e que não está limitada no âmbito nacional, prezamos pela difusão de informação real, verdadeira e confiável, e vimos então alertar e esclarecer certos mitos arraigados em nossa sociedade.

Nossa visão, está fundamentada no direito à liberdade, à individualidade, à intimidade, ao livre desenvolvimento da personalidade, não intervenção do Estado na vida privada do cidadão. E vemos que tal conduta é uma questão de ética perante a sociedade.

Estamos assistindo nos últimos tempos uma verdadeira perseguição de usuários e cultivadores de Cannabis para uso próprio, os chamados GROWERS, plantadores de subsistência.

Jovens estudantes, idosos doentes, famílias inteiras, trabalhadores, cidadãos produtivos que utilizam a Cannabis de forma livre de preconceitos estão sendo presos, encarcerados e privados de liberdade de forma inaceitável em uma sociedade verdadeiramente livre e democrática.

É tempo mais que imediato de cair por terra esta perseguição que existe somente com base na desinformação e descriminação tanto da sociedade quanto dos órgãos de mídia e segurança no Brasil.

O cultivo caseiro de Cannabis é real, factual, amplamente difundido no seio da sociedade brasileira e mundial, como uma forma imediata e eficaz de solucionar diversos problemas causados pela proibição do uso desta substância, seja de forma recreativa, religiosa ou medicinal.

Gostaríamos então de dizer que:

- a Cannabis é uma PLANTA, e existe de forma natural em praticamente todo o globo, com centenas de variedades distintas, sua erradicação é efetivamente utópica e impossível.

- a Cannabis é encontrada em sua forma natural basicamente em 2 gêneros, a planta MASCULINA, e a FEMININA.

- Somente a planta FEMININA é consumida, sendo que a MASCULINA, gera somente flores machos, verdadeiros sacos de pólen, sem quantidades consideráveis dos principais elementos psicoativos (cannabinoides).

- Da planta feminina, apenas as FLORES SECAS são consumidas, portanto, caules, folhas, sementes, galhos, raizes NÃO SÃO CONSUMIDOS e são descartados no processo de colheita.

- as FLORES SECAS (buds) têm aproximadamente 30 % do seu peso original quando maduras para colheita, antes do processo de secagem e cura.

- a Cannabis precisa basicamente de poucos pré-requisitos para ser cultivada: LUZ, ÁGUA, MEIO DE CULTIVO (terra, água, substratos, etc) e NUTRIENTES.

- Pode ser cultivada em praticamente qualquer local no mundo, seja em ambiente interno ou externo (indoor/outdoor).

- o processo de plantio e cultivo da Cannabis não difere da prática de jardinagem ou plantio de quaisquer outras espécies de plantas, verduras frutas ou legumes existentes na natureza, o conceito de “plantas de laboratório” é uma fantasia.

- o plantio de Cannabis para o auto sustento (autoplantio / homegrow) é uma prática difundida globalmente, onde técnicas e equipamentos são desenvolvidos constantemente usando alta tecnologia de luzes, substratos, nutrientes, etc.

- o GROWER (cultivador) nada mais é do que um consumidor pesquisador, um interessado nas diversas VARIEDADES (strains) existentes, e não difere em ABSOLUTAMENTE NADA de um SOMMELIER, um mestre cervejeiro, um provador de café ou de charutos, profissões que não são somente reconhecidas, mas valorizadas e admiradas em nossa sociedade. O que difere um grower de um sommelier é apenas a substância.

- o GROWER é um consumidor em sua grande totalidade com consciência social, que busca de forma ativa ter acesso a plantas saudáveis, com genética definida, sem outras drogas ou substâncias nocivas misturadas, e principalmente, objetivando reduzir o tráfico ilegal e violento de drogas.

- cada GROWER que planta sua Cannabis de forma independente, é um cliente a menos das máfias traficantes, conceito conhecido como REDUÇÃO DE DANOS.

- a redução de danos é uma política aceita mundialmente, seja para usuários de diversas substâncias, como para redução do crime organizado que se sustenta de um comércio ilegal.

- o GROWER não é um traficante, não faz comércio de suas plantas, não estimula o uso por outras pessoas, não contribui para o ciclo de violência ou financiamento de redes de tráfico. E muito menos é um perigo à sociedade.

- o GROWER independente, tem menos acesso a drogas mais fortes, exatamente o contrário do falso argumento de que é a “porta de entrada” para outras drogas.
O tráfico ilegal de drogas que é a porta de entrada para outras drogas.

- a Lei 11343/06, artigo 28, prevê que o PLANTIO PARA USO PRÓPRIO não é passível de restrição de liberdade, artigo que hoje é ignorado pela maioria de delegados que não tem embasamento teórico ou científico para aplicar de forma correta esta lei, já que não existe uma clara definição de quantidades de plantas que definam o uso próprio.

- A mensuração do que é “pequena quantidade”, conceito previsto no artigo 28, é extremamente subjetiva, pois cada consumidor tem seu ritmo de consumo e por diversos fatores o rendimento de cada planta varia muito.

- a Cannabis é usada de forma MEDICINAL na enorme maioria dos países há MILÊNIOS, constando em vasta literatura medicinal, farmacopéias chinesas e egípcias já utilizavam para uma série de males e doenças há MILHARES de anos.

- a Cannabis pode ser consumida de diversas formas, fumada, vaporizada, ou ingerida por via oral, como parte de receitas de bolos, biscoitos, uma série de alimentos que podem ser preparados em qualquer cozinha.

- uma série de países pelo mundo já reconhecem e regulamentam de forma legal parcial ou totalmente o uso medicinal, recreativo e o potencial de exploração da Cannabis como matéria prima, posição que exclui o Brasil desta lista, privando a liberdade individual de escolha, promovendo a segregação religiosa, limitando pesquisas científicas para maior conhecimento e exploração dos potenciais medicinais e econômicos e privando enfermos de terem acesso a um medicamento largamente utilizado hoje nos EUA, Canadá, praticamente toda a comunidade Européia, Israel, etc., países civilizados e tolerantes, líderes em pesquisas medicinais.

- o CÂNHAMO (Cannabis industrial não resinosa, sem THC, o princípio ativo) é utilizado como matéria prima na confecção de mais de 10 mil produtos diferentes, passando pela indústria alimentícia, produtos de beleza, materiais de construção, biodiesel, indústria têxtil, etc. Seu uso e aplicação são virtualmente ilimitados. Hoje o Brasil tem leis que proíbem a exploração do CÂNHAMO industrial como matéria prima, mesmo sendo uma planta que não possui efeitos psicotrópicos.

- a Cannabis é hoje matéria prima para medicamentos devidamente sintetizados por laboratórios e devidamente aprovados para comércio nos países acima mencionados, como por exemplo, o SATIVEX e o MARINOL.

- O vegetal Cannabis é tão complexo que possui uma série de cannabinoides (princípios ativos) que atuam diretamente no sistema endocannabinoide humano. O que permite infinitas possibilidades de seu uso em tratamentos.

- a Cannabis é a substância ilegal mais consumida no mundo, com aproximadamente 160 milhões de consumidores regulares no mundo, número altamente expressivo.

- no Brasil acredita-se que hajam por volta de 6 milhões de consumidores regulares de Cannabis, por seus mais variados motivos, seja de forma recreativa ou motivação religiosa, ou necessidade médica.

- Estamos, portanto, prendendo, segregando, descriminando e criminalizando socialmente uma CONSIDERAVEL parcela de nossa sociedade, seja Brasileira, seja mundial.

- A tendência global é uma total e completa revisão na política de proibição da Cannabis, que se mostrou não só ineficaz, como um estupro dos direitos e liberdades individuais, as conseqüências desta proibição todos conhecemos:


• - o uso de Cannabis aumentou exponencialmente com a política de proibição.
• - o tráfico ilegal de drogas somente fortaleceu-se com esta política.
• - quantidades gigantescas de recursos de estados e países estão voltadas para uma guerra sem fim, uma guerra sem vencedor, apenas perdedores.
• - enormes poderes econômicos, políticos e policiais tem interesse na manutenção desta guerra segregacionista ao consumo e cultivo de Cannabis.
• - a busca por novas substâncias que não se enquadrem no rol das proibidas, aumentando assim o risco de danos ao consumidor.
• - recursos que deveriam ser aplicados em educação, prevenção, informação e apoio ao usuário contumaz ou viciado, são usados para aparelhar infinitamente nossas polícias, nosso já saturado sistema judiciário, nossas já superlotadas cadeias, cheias de criminosos de baixíssimo potencial de perigo social.
• - a estigmatização do indivíduo apenas pela escolha de sua substância de uso é algo nefasto para o desenvolvimento democrático e libertário de uma sociedade, e deve ser considerado como um discurso de ódio.


Nosso movimento não prega, como a sociedade parece acreditar, uma LIBERAÇÃO, uma ANARQUIA indiscriminada. Temos referências pelo mundo muito claras sobre como discutir e aplicar devidamente um formato que se adapte às realidades do Brasil, para permitir a devida REGULAMENTAÇÃO e CONTROLE de todo o ciclo econômico da Cannabis, o que DIVERSOS países estão fazendo com sucesso pelo mundo.

A proibição legal de uma substância para consumo em detrimento de outras mais danosas ao indivíduo seja por conseqüências físicas ou psicológicas é algo que está provado ser totalmente ineficaz para reduzir ou controlar o uso desta substância.

A informação sobre o uso, danos e perigos é mascarada pela lei, pelo moralismo de faixas da sociedade que ainda acreditam ser viável a total erradicação deste uso, apenas por medos, motivações morais, religiosas ou interesses comerciais.

Nós da comunidade cannábica do Brasil queremos de forma DEFINITIVA ajudar a acabar com o desconhecimento e o preconceito que é fomentado no seio de nossa sociedade, e que estigmatiza não só os usuários, mas prejudica a todos, que pagam um preço injustificável na tentativa de aplicar regras sociais com o uso da força, da lei penal.

È hora de INFORMAÇÃO, de FATOS, de um debate EMBASADO para que a mídia e as forças de segurança tenham cada vez mais capacidade e conhecimento para distinguir quem é usuário de quem é um perigo para a sociedade.

Estamos abertos ao debate franco, livre de preconceitos e tabus, em prol de uma sociedade mais tolerante, mais evoluída, instruída e capacitada para resolver as verdadeiras mazelas que nos afligem.

E por fim gostaríamos de deixar claro que nossos objetivos, argumentos e atitudes são sempre visando o melhor de toda a sociedade, não só a atual, mas principalmente das futuras gerações, as quais, acreditamos, olharão para o passado com a mesma tristeza e repúdio com que olhamos para Inquisição ou o Nazismo.

Somos da paz e pela paz.

Abaixo assinados, grupos em defesa da legalização da Cannabis e dos direitos individuais.

by HighT e PsyMentor

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